Para manter inclusão e respeito, WordPress altera termos

Por Felipe Elia

Imagine que você criou o seu primeiro ticket para avisar que achou algo errado no WordPress, e ele é simplesmente encerrado com uma mensagem de “não vamos consertar” ou “funciona para quem leu o ticket”. A vontade de voltar e abrir um segundo diminui bastante, não é?

Seguindo uma tendência mundial, a equipe do WordPress.org planeja mudar algumas expressões na plataforma.

Expressões como wontfix, ou “não vamos consertar”, worksforme, algo como “funciona para mim”, “lista negra” ou ainda master serão substituídas por versões mais amigáveis e inclusivas.

Os tickets do trac, o sistema usado para gerenciar os erros e melhorias do WP, recebem um rótulo ao serem encerrados, indicando o motivo de seu fechamento.

Para a frustração de muitos iniciantes, vários tickets são encerrados apenas com um wontfix, indicando que o erro é algo que não será consertado. Outra expressão muito usada é worksforme que, literalmente, significa “funciona para mim”. O problema dessas frases é a indiferença que elas denotam, o que afasta novos colaboradores.

Uma mudança sutil já faz toda a diferença: ao invés de worksforme uma expressão como cannot-reproduce, ou “não foi possível reproduzir”, diminui a sensação de indiferença enquanto implica que talvez seja possível reproduzir usando outros passos.

Para wontfix parece não haver uma expressão que a substitua completamente, mas alternativas explicando o porquê já estão sendo estudadas: not-in-scope, ou “fora do escopo”, insufficient-resources, ou “recursos insuficientes”, ou better-as-a-plugin, para funcionalidades que não deveriam estar no próprio WordPress, mas em um plugin separado.

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Nos repositórios Git do WordPress, a mudança será de master para trunk ou main. A origem do termo master, nesse caso, vem de master / slave, mestre e escravo, termos muito comuns na tecnologia. A escolha do termo trunk, ou “tronco”, faz muito mais sentido em uma ferramenta onde lidamos com branches, ou galhos. Além disso, também são termos usados no SVN, o programa de versionamento de código usado pelo core do WordPress.

De lista negra para lista bloqueada
Expressões como “lista negra” já foram substituídas por “lista bloqueada”, não só no WordPress, mas em várias ferramentas. Coisas que precisam de um esforço extremamente pequeno — no fim das contas, é só um search and replace e uma mudança de hábito —, mas que reforçam valores importantes de inclusão e respeito.

A mudança é boa, necessária e aproveita o atual momento da sociedade para ajustar minimamente coisas muito importantes.

A etiqueta do WordPress diz que “nós nos preocupamos em manter um ambiente receptivo onde todos se sintam incluídos”, e as alterações são um passo nesse sentido.

Toda vez que vejo uma discussão assim, me lembro de um outro assunto parecido: o ministro Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao decidir sobre a união homoafetiva. Disse ele que os heterossexuais não eram prejudicados em nada, mas que a decisão significava muito para os homossexuais.

+ TEXTOS DA COLUNA DE FELIPE ELIA

Aqui vale o mesmo princípio: absolutamente ninguém perde com as mudanças, mas deixamos claro que a comunidade do WordPress é um lugar amigável, onde todos, independente de experiência, raça ou qualquer outro atributo, são bem-vindos.

E um recado final, sempre importante neste contexto: todos esses termos incomodam várias pessoas. Se os termos não lhe incomodam, talvez seja só porque você não é o motivo das alterações 🙂

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Mensalmente, Felipe Elia escreve sobre Comunidade, Desenvolvimento & Plugin para a comunidade WordPress São Paulo.

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Felipe Elia — Radicado em Curitiba (PR), o carioca de 33 anos é mentor global da equipe de poliglotas do WordPress. Formado em Marketing e com Pós-Graduação em Marketing Digital pela Unicesumar, atua como gerente de localização e moderador do fórum brasileiro do WP em Português do Brasil. Além disso, é web engineer na 10up e mantém o canal Felipe Elia WP no YouTube.


O conteúdo desta coluna não reflete, necessariamente, as opiniões da comunidade WordPress São Paulo.

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